
Desde o primeiro choque do petróleo na década de 1970, os países que eram substancialmente dependentes das importações dessa commodity presenciaram uma grande depreciação em seus balanços comerciais. Tal situação levou esses países a desenvolver políticas mais rigorosas em relação ao consumo, ampliação da capacidade de produção de petróleo, e programas de desenvolvimento de fontes alternativas de energia. Tais medidas adotadas tiveram como objetivo amenizar a dependência do petróleo como fonte principal de energia e mitigar o seu impacto nas contas correntes. Exemplo desses programas de desenvolvimento de energia alternativa pode-se citar o programa Pró-álcool desenvolvido pelo governo federal em 1975, o qual teve como objetivo substituir em larga escala a gasolina utilizada nos veículos.
Entretanto, os programas de energia alternativa, que foi e vem sendo desenvolvidos por grande parte na Europa, Estados Unidos, Brasil, não têm apenas visado as situações econômica e financeira, como também a questão ambiental. Já que se trata da utilização de uma matriz energética a base de combustíveis fósseis, os quais impactam de forma bem significativa o meio ambiente, devido aos seus resíduos tóxicos que são eliminados pela sua queima, como por exemplo, Dióxido de Enxofre, Dióxido de Carbono, sendo esse último um dos gases responsáveis pelo efeito estufa.
Em virtude desses programas que vem sendo desenvolvido, apesar de ter caminhado de forma mais lenta, durante a década de 1980 devido aos altos custos em obter energia alternativa extraída de vegetais e a retomada do preço do petróleo em patamares mais baixos, pode-se observar, atualmente, uma substituição parcial do petróleo na matriz energética mundial por biocombustíveis, como: o biodiesel, álcool a base de cana-de-açúcar, e o álcool a base e milho. Sendo o biodiesel extraído através da mamona, colza, e substancialmente, pela soja e milho.
Por certo, o desenvolvimento e a produção desses biocombustíveis e a sua ascendente demanda mundial, em especial o biodiesel a base de soja e milho, tem desequilibrado o mercado mundial de commodity agrícola, fazendo com que “acenda uma luz amarela”, no que diz respeito ao futuro dos preços desses alimentos. Já que o aumento da demanda, impressionada não apenas pelo aquecimento do consumo alimentar por parte dos países em desenvolvimento, como também pelo seu uso na fabricação de biodiesel, tem elevado substancialmente os preços dessas.
Tal elevação nos preços dos alimentos tem gerado fortes impactos nas economias como da África e do Haiti, que de acordo com o “Financial Time”, em uma reportagem intitulada “Biodiesel não mata fome” em sua versão traduzida, alerta para o aumento dos preços dos alimentos, os quais têm dobrado nesses últimos anos fazendo com que haja uma escassez de alimentos essenciais, como trigo, soja e o milho nesses países.
Por conseguinte, esses impactos na economia não restringem apenas a esses países pobres como aos demais, já que os aumentos nos preços desencadeiam um aumento generalizado dos preços (inflação) devido ao uso dessas commodities na produção de alimentos e como insumos em determinadas cadeias produtivas (por exemplo, ração para alimentação animal). Além disso, a alta dos preços tem sido explicada pelos analistas por dois lados. De um lado, apontam a alto dos preços como reflexo de alguns fatores temporários, como as más colheitas dos últimos anos nos Estados Unidos e na União Européia, e aos problemas climáticos. Por outro lado, atribuem a causa à alta do preço do petróleo que tem sido refletido no preço final das commodities devido ao uso de fertilizantes e diesel para tratores e colhedoras.
Vale destacar que não deve ser negligenciado, tanto por parte dos governos quanto dos analistas, porque o aumento da demanda por insumos agrícolas como o trigo e a soja para a fabricação de biocombustível tem sido um dos fatores substancias para a alta dos preços no mercado mundial, alavancado, principalmente, pelo forte aumento da produção dos Estados Unidos e da Europa.
Fica claro, portanto, que o aumento da demanda por produtos alimentares, somado ao consumo dessas commodities por parte da produção de biocombustíveis tem colocado os governos em um impasse, no sentido de escolher qual a melhor política a ser tomada dentro desse contexto: produzir alimentos ou biocombustíveis. Ambas as escolhas não seriam bem-vindas ao se tomar uma em detrimento da outra, devido ao fato de que elas irão, de certo modo, beneficiar apenas um setor.
Fica claro, portanto, que o aumento da demanda por produtos alimentares, somado ao consumo dessas commodities por parte da produção de biocombustíveis tem colocado os governos em um impasse, no sentido de escolher qual a melhor política a ser tomada dentro desse contexto: produzir alimentos ou biocombustíveis. Ambas as escolhas não seriam bem-vindas ao se tomar uma em detrimento da outra, devido ao fato de que elas irão, de certo modo, beneficiar apenas um setor.
De modo indubitável, acredita-se que a melhor saída, a posteriori, se concentra na equalização de ambas as produções, sendo esta desenvolvida junto com o aumento do volume ofertado dessas commodity, fazendo com que os preços fiquem à níveis mais baixos que os atuais. Ou seja, teríamos uma oferta maior que a demanda impressionando os preços para baixo.
Por fim, espera-se que os governos adotem uma política que equilibrasse ou suavizasse o desequilíbrio entre a produção de biocombustíveis e a de alimentos. De forma que não prejudique, tanto o desempenho que o setor tecnológico em geração de energia alternativa, que vem alcançando, nessas últimas três décadas, resultados positivos em suas pesquisas. Quanto ao setor alimentício, ele não pode, em momento algum, ser onerado com a alta elevação do preço de seus insumos, pois, trata-se de um setor chave para a economia global, já que qualquer variação brusca nos preços poderá ocasionar um descompasso na economia dos países, principalmente em países dependentes maciçamente da importação de alimentos.
Por: David Leite Carrilho, Economista, Especialista em Engenharia de Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia – IME. E-mail: leitecarrilho@yahoo.com.br
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