quinta-feira, 27 de março de 2008

Pesquisa revela obras que mais extrapolaram seus orçamentos originais

Reportagem da Revista Exame.
Fonte: http://www.exame.com.br/, acesso em 27/03/2008.
Levantamento realizado pelo Anuário EXAME de Infra-Estrutura revela que alguns dos projetos de infra-estrutura considerados vitais para o crescimento do Brasil tiveram seus valores revistos durante a execução ou mesmo antes de começarem a sair do papel. A revisão do valor inicialmente orçado pode decorrer tanto de falhas do projeto quanto do longo período em que a obra ficou paralisada.

As eclusas de Tucuruí são um exemplo clássico da imprevisibilidade que têm caracterizado as estimativas de custos das obras públicas no país. As eclusas começaram a ser construídas em 1983, sem um prazo definido de conclusão, já que não havia verba assegurada para sua execução. De uma previsão inicial de 466 milhões de reais, o orçamento da obra saltou para 1,2 bilhão de reais – quase três vezes mais. Por falta de recursos, a obra sofreu três paralisações, a última delas em 2004. No início de 2007, o governo federal incluiu as eclusas como uma das prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A nova previsão é que elas fiquem prontas em 2010. O objetivo das eclusas é viabilizar a navegação na Hidrovia Araguaia-Tocantins, para o escoamento de minérios da região e da produção agrícola do centro-oeste. O curso desses rios foi interrompido pela construção da barragem da usina hidrelétrica da Tucuruí. As eclusas permitiriam vencer o desnível de 74 metros criado pela barragem.
Outro projeto grandioso que já completou mais de duas décadas nas pranchetas é o da Ferrovia Norte-Sul, lançado em 1986 pelo então presidente José Sarney. As obras começaram na época sob fortes críticas – dizia-se que era uma estrada de ferro que ligaria nada a lugar algum. Além disso, o projeto nasceu manchado por irregularidades na licitação – o resultado da concorrência foi publicado antecipadamente na forma de um anúncio cifrado em jornal, deixando claro que se tratava de um jogo de cartas marcadas. Sarney terminou seu mandato com apenas 100 quilômetros de ferrovia construídos. Desde então, o projeto passou por uma reavaliação e passou a ser visto como de importância estratégica para o escoamento da safra de grãos da região centro-oeste. Em outubro deste ano, a Companhia Vale do Rio Doce ganhou a concessão de um trecho de 720 quilômetros da Norte-Sul, entre Açailândia (MA) e Palmas (TO). Pelo lance mínino de 1,478 bilhão de reais, a Vale ganhou o direito de explorar o trecho durante 30 anos. Parte do dinheiro arrecadado no leilão deverá ser usada para as obras dos 352 quilômetros que ainda faltam construir no trecho arrematado pela Vale. Esse trecho deve ficar pronto em 2009. Quanto ao restante, a previsão é que seja concluído até 2010. No total, a Norte-sul terá 1 980 quilômetros de extensão.

Outra obra importante cujo valor foi revisto é o trecho Sul do Rodoanel de São Paulo. De um valor inicialmente orçado em 2,5 bilhões de reais, o custo estimado saltou para 3,6 bilhões de reais. Com um traçado de 61,4 quilômetros de extensão (57 quilômetros de pista e 4,4 quilômetros de ligação em Mauá) o trecho Sul começa no município de Mauá, passa por Santo André, São Bernardo, São Paulo, Itapecerica da Serra e Embu, terminando na ligação com o trecho Oeste na rodovia Régis Bittencourt. O governo paulista iniciou a obra em maio de 2007 e pretende concluir o trecho Sul até abril de 2010. O investimento total de 3,6 bilhões de reais compreende a obra propriamente dita, desapropriações, reassentamentos e mitigações e compensações ambientais. De acordo com a Dersa, empresa responsável pela obra, o aumento na previsão dos gastos foi decorrente de mudanças realizadas no projeto com o objetivo de reduzir os impactos ambientais. Parte das mudanças para minimizar os impactos ambientais ocorreu por conta da pressão do Ministério Público Federal e de ambientalistas. Estima-se que, quando o trecho sul do Rodoanel ficar pronto, ele deverá receber 725 000 veículos por dia.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Nova Bolsa brasileira será a 2ª maior das Américas

Qua, 26 Mar, 07h25
Fonte: Yahoo Notícias.

Os Conselhos de Administração da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) e da Bovespa Holding aprovaram, em reuniões realizadas ontem, a integração das atividades das duas companhias, com a formação de uma entidade batizada provisoriamente de Nova Bolsa. "Estima-se preliminarmente que esta reorganização societária poderá, até 2010, atingir um potencial de economia de até 25% das despesas operacionais anuais da organização combinada, em função das sinergias existentes", afirmaram as bolsas em fato relevante divulgado ontem à noite.

A Nova Bolsa será uma companhia aberta e com ações negociadas no Novo Mercado. Os acionistas da BM&F e da Bovespa Holding receberão ações ordinárias emitidas pela Nova Bolsa, na proporção de 50% para cada companhia. Além disso, os acionistas da Bovespa Holding, controladora da Bolsa de Valores de São Paulo e da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), receberão pagamento de R$ 1,24 bilhão. As empresas não esclareceram de onde virá essa quantia.

Na manhã desta quarta-feira, serão esclarecidos os termos do acordo. Participarão de entrevista à imprensa os presidentes dos Conselhos de Administração da Bovespa Holding, Raymundo Magliano Filho, e da BM&F, Manoel Felix Cintra Neto, e os diretores-gerais das duas companhias, Gilberto Mifano e Edemir Pinto, respectivamente. Levando-se em conta o valor de mercado somado das duas bolsas brasileiras em fevereiro (cerca de US$ 20 bilhões), a instituição resultante seria a segunda maior das Américas, atrás apenas da Bolsa de Chicago e à frente até mesmo da Bolsa de Nova York.

As ações da Bovespa estrearam em pregão no dia 26 de outubro do ano passado, com expressiva alta. O papel disparou 52%, para R$ 34,99. O sucesso da bolsa paulista criou grande expectativa para a abertura de capital da BM&F, que ocorreu em 30 de novembro. A alta das ações, porém, foi mais modesta: 22%, para R$ 24,42. Ontem, os papéis da BM&F fecharam em R$ 16,68 e os da Bovespa, em R$ 25. Conselho Ficou decidido que a Nova Bolsa terá um Conselho de Administração com igual número de integrantes indicados por BM&F e Bovespa Holding, mas a maioria dos membros será independente.

O processo de avaliação dos ativos das bolsas ("due diligente") está em curso, bem como os preparativos para a submissão da proposta aos acionistas das companhias. A transação também será submetida para apreciação dos órgãos reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central, além do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Os Conselhos de Administração das duas bolsas resolveram formar um Comitê de Transição que funcionará até 31 de dezembro de 2008. Farão parte os respectivos presidentes e diretores-gerais das companhias. O grupo terá até 60 dias após a data de aprovação do negócio pelas assembléias gerais da BM&F e da Bovespa Holding para indicar o novo presidente do Conselho de Administração e o novo diretor geral.

Em 19 de fevereiro, BM&F e Bovespa Holding anunciaram o início de conversações com o propósito de integrar suas atividades. As negociações, de caráter exclusivo, poderiam durar até 60 dias.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Transporte marítimo é um alternativa rentável para multinacionais.

Por: Peter Lorange*

A indústria do transporte marítimo é um exemplo perfeito de como a globalização obrigará diversas empresas a procederem a reestruturações básicas, recorrendo a novas estratégias e modelos de negócios. Em seu próximo livro sobre o novo pensamento estratégico na indústria de transporte marítimo, o dr. Peter Lorange discorre sobre a turbulência que resultará dessas transformações e que, em sua opinião, criará oportunidades especialmente para quem sair na frente.

Tradicionalmente, o negócio de transporte marítimo bem-sucedido estava associado à sua tonelagem. Tinha também de se desincumbir de várias funções correlatas, tais como a aquisição e a venda de navios, operações financeiras, introdução de inovações no design dos navios e no recrutamento de tripulação própria. Contudo, com o crescimento dos investimentos externos, as empresas de capital aberto e os gestores profissionais estão substituindo as companhias de transporte marítimo privadas e os armadores do passado. Juntamente com essa transformação surge uma preocupação com a integridade, pontualidade e exatidão dos relatórios financeiros.

Consolidação

As empresas de transporte marítimo reagiram à pressão por melhor desempenho através da consolidação, porque tinham de ser grandes para competir na economia global. O tamanho não só lhes dava a possibilidade de deslocar seus navios pelo mundo para tirar vantagem máxima das flutuações da oferta e da demanda, como também dissuadia possíveis concorrentes de entrar no mercado. O mais importante de tudo, porém, foi que o financiamento alternativo, baseado em frotas de grande escala, produziu os resultados financeiros esperados pelos acionistas.

Especialização

Contudo, as empresas que aspiram ao posto de vencedoras globais podem encontrar na especialização a resposta que procuram. Com a especialização, as companhias de transporte definem suas atividades principais e, em seguida, as atividades padronizadas que podem ser terceirizadas. Isto significa que uma empresa pode identificar uma parte do negócio em que se sobressai e ampliar suas atividades repassando-as a outros setores, produzindo dessa forma um produto especializado em condições de competir no mercado global.

A especialização resultante desmembra as companhias de transporte integradas em quatro categorias — as que possuem aço, as que usam o aço, as que operam com aço e as que inovam utilizando o aço. As empresas que possuem aço se preocuparão com a questão do tamanho, da escala e com custos baixos. As que utilizam o aço se preocuparão em criar laços fortes com sua clientela com base em seu objetivo, marca, operações, serviços etc. A terceira categoria se concentrará nos processos de inovação associados ao aço, enquanto a quarta se especializará na operação do aço centrada no baixo custo da tripulação contratada e nas atividades de manutenção.

Por que mudar?

Para os que se esforçam para superar o aspecto sentimental associado à posse de um navio, há cinco razões principais pelas quais a empresa de transporte integrada terá de passar por uma reavaliação. Em primeiro lugar, porque a posse do aço exige, via de regra, um acompanhamento de longo prazo, o que requer muita liquidez, e cujo resultado apresenta um alto fator de risco. Ao usar o aço, porém, torna-se imperativa a adoção de uma gestão que ponha fim aos prejuízos!

Em segundo lugar, a propriedade do aço implica a administração eficiente dos navios, e requer um timing para a compra e venda, sendo o navio a unidade de transação em questão. Contudo, a utilização do aço exige também uma engenharia financeira, operações de fretamento, marketing e transações com derivativos de frete etc. — não necessariamente baseados no navio como unidade de transação.

Em terceiro lugar, enquanto no passado as diferentes atividades de transporte eram integradas em um único pacote, hoje o cliente tem acesso a especialistas a um custo módico. É provável que não haja praticamente retorno algum a longo prazo no controle exclusivo de todas as etapas do negócio como ocorria no passado com as grandes empresas de transporte integrado. Na verdade, o efeito pode ser o oposto disso. Por exemplo, se uma companhia especializada em inovações, como a Marsoft, fosse dona de algum navio, participasse de transações comerciais ou de atividades operacionais, suas orientações não seriam mais encaradas com imparcialidade.

Em quarto lugar, o financiamento assume diferentes formas com a especialização. No caso dos armadores, por exemplo, a principal preocupação consiste em assegurar fluxos de capital a custos baixos. No caso das empresas comerciais e de fretamento, porém, a ênfase recai sobre a obtenção de financiamentos a custos razoáveis com base em um fluxo de caixa relativamente estável e, de preferência, em constante elevação. Isso também facilitaria a obtenção de fundos públicos — ao contrário do que ocorre com os padrões menos previsíveis de fluxos de caixa das companhias armadoras tradicionais.

Por fim, diferentes aspectos da cadeia de valor exigem diferentes competências; além disso, pode ser difícil a gestão de numerosas atividades não relacionadas em patamares de nível mundial. Ao se limitarem as atividades, as chances de melhor desempenho aumentam, bem como as chances de sucesso da empresa.

Papel ou aço?

Na realidade, tanto a “propriedade do aço” quanto a “utilização do aço” podem ser encontradas na mesma empresa, mas é importante separar o foco de cada categoria do negócio. A Awilco, uma companhia norueguesa, tem duas plataformas marítimas: navios-tanques e plataformas de abastecimento offshore, mas a empresa se especializa também em investimentos em ações nos segmentos de transporte marítimo e de atividades offshore. Para isso, recorre a seu conhecimento especializado, que lhe garante o melhor retorno possível antes que a maioria dos investidores institucionais saiba a quantas anda o desempenho do mercado subjacente.

Essa tendência cada vez mais acentuada, que privilegia as operações com papéis no mercado, ganha força com o advento de derivativos e futuros com volumes de negociação tão bons quanto os da Bolsa Marítima Internacional (International Maritime Exchange, IMAREX). Podem-se também criar fundos específicos tendo em vista a compra e venda de navios. Para que esse objetivo tenha êxito, é imprescindível atentar para o timing de entrada e de saída do mercado. Não há dúvida de que é mais fácil entrar e sair do mercado acionário e/ou do mercado de futuros do que comprar e vender navios de verdade.

As companhias de transporte que privilegiam a inovação constituem a terceira categoria de especialização. No passado, as companhias integradas costumavam trabalhar com inovações surgidas no interior do seu espaço de trabalho — muitas vezes com resultados de caráter relativamente “caseiros”. A especialização quase sempre produz resultados de qualidade. A parte operacional, ou a quarta categoria, diz respeito à tripulação e à manutenção diária dos navios.

O que fazer

Diante da necessidade de se adaptar, a primeira coisa que uma companhia armadora deve fazer é identificar em que lugar se encontram as oportunidades mais promissoras hoje e no futuro. A isso deveria se seguir uma análise especializada de uma das categorias acompanhada de uma compreensão objetiva dos fatores críticos de sucesso. É importante que a administração compreenda o que é fundamental para seu negócio em particular dependendo da categoria específica escolhida. É igualmente importante compreender quem são os clientes de cada categoria, bem como o tipo de serviço que desejam.

No caso das companhias armadoras especializadas em ascensão, é fundamental que o planejamento, a liderança, funcionários e gerentes tenham o perfil da categoria escolhida. Não há uma maneira específica de comandar uma transportadora. O que vale é atentar para o que realmente importa — e esses fatores críticos de sucesso serão diferentes em cada uma das quatro categorias de negócios.


Fonte: Revista Época, acesso em 22/03/2008, às 17h00m.
*Peter Lorange é presidente do IMD (International Institute for Management Development), instituto suíço de educação para executivos.